A Cultura popular da Póvoa de Varzim é bastante rica e diversificada, devido aos diferentes meios de subsistência que a sua população encontrou. A mais carismática, e que costumava ser a dominante, é a comunidade piscatória. Tal como é característico das comunidades piscatórias, têm características culturais próprias, que chegam a ser bastante diferentes quando comparadas com outras regiões do país.
Algumas das características das comunidades piscatórias da Póvoa de Varzim são as seguintes:
- Siglas poveiras ou marcas poveiras: são uma forma de "proto-escrita primitiva", tratando-se de um sistema de comunicação visual simples, usado na Póvoa de Varzim durante vários séculos, em especial nas classes piscatórias (figura 1). Estas siglas poveiras poderiam ser pintadas, por exemplo, em barcos (chamados de divisas) ou em barracas de praia. No passado, era também usado para recordar coisas, eram conhecidas como a «escrita» poveira, mas não formavam um alfabeto, em vez disso funcionavam como os hieróglifos egípcios, adquirindo bastante utilidade.
1 - Siglas Poveiras. |
- Pode-se distinguir dois tipos de símbolos relativamente ao uso: as marcas e as siglas. As marcas serviam para registo de posse, e por isso bastante comuns, e as siglas tinham preocupações (uma direcção) mágico-religiosas. Essas siglas eram mais raras, quer antigamente, quer recentemente.
- Também existem as marcas usadas como brasões de família usadas desde tempos imemoriais pela comunidade e com estes símbolos marcam-se todos os objectos marítimos e caseiros, ou seja, são um registo de propriedade. A "marca-brasão" de uma família era conhecida por toda a comunidade poveira, sendo os filhos reconhecidos através da contagem dos piques, uma sigla que corresponderia a um traço (fig. 3).
- Os poveiros escreviam a sua sigla na mesa da sacristia da igreja matriz quando se casavam como forma a registar o evento.
- A camisola poveira é o traje de romaria e festas da Póvoa de Varzim, mas antigamente, eram utilizadas pelos pescadores para se protegeram do frio, porque são camisolas de lã, bastante quentes (fig.2).
3- Marca na soleira de uma garagem. |
2- Camisola Poveira. |
Algumas curiosidades das comunidades piscatórias:
- O antigo pescador poveiro apenas se relacionava maritalmente com alguém da sua casta piscatória, e apenas da sua comunidade, ou seja, da Póvoa de Varzim ou de antigas aldeias piscatórias a ela ligadas nomeadamente Santo André (hoje parte das novas freguesias de Aver-o-Mar e Aguçadoura) e Fão (em Esposende).
· Os poveiros escreviam a sua sigla na mesa da sacristia da igreja matriz quando se casavam como forma a registar o evento. Este tipo de uso de siglas pode ser encontrado na Igreja Matriz (igreja matriz desde 1757) e na Igreja da Lapa. A mesa da sacristia da antiga Igreja de Santa Maria de Varzim, guardava em si milhares de siglas que serviriam para um estudo mais pormenorizado, nomeadamente para verificar origens de famílias, mas foi destruída quando a igreja foi demolida em 1910. Situada no Largo das Dores, a igreja tinha sido edificada no século XI e serviu de Matriz até 1757.
· Também, e ao contrário do resto do país, é a mulher que governa a família, na ausência do homem que estava normalmente a pescar no mar.
· A noite de Natal das classes piscatórias era celebrada no chão coberto por uma manta branca, onde toda a gente se sentava e, no centro, pousava-se uma travessa ou uma bacia.
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